09 agosto 2006

Deuses Imaginários

É assim... Parece que vai ser sempre assim...
Na sociologia, na filosofia, na psicologia e em todos os estudos acadêmicos abstratos, sempre se vê a mesma coisa: à medida que vão evoluindo, esquadrinhando cada vez mais fundo seu objeto de estudo, vão perdendo o sentido de conjunto, vão encontrando outro paradigma, outro sistema criativo e, por conseqüência, vão negando, com sorriso matreiro nos lábios, o que todo mundo percebe, o que a vida, e o povo que a vive, consagrou, como quem descobriu que a Terra é quadrada e que um mais um é três!

A Claudia Pereira Dutra, no seu trabalho acadêmico “A Prenda no Imaginário Tradicionalista” já parte de um pressuposto, no mínimo, duvidoso...

“Parto da hipótese que o discurso tradicionalista que cria e recria o gaúcho é também formador de uma determinada imagem de mulher representada pela prenda. Em outras palavras, na tecitura do discurso tradicionalista, inventa-se a prenda como uma figura que tem a tarefa de imprimir uma determinada imagem de mulher que passa a ser cultuada como parte da memória gaúcha.”

Quem nasceu primeiro: O Gaúcho, ou o tradicionalismo?
Não, não é como o ovo e a galinha. O tipo humano gaúcho é o resultado de um processo histórico-cultural que iniciou com a chegada dos Jesuítas no território hoje do Rio Grande.
Eu sei, e creio que todo o gaúcho tradicionalista sabe: A figura do gaúcho que nós representamos hoje nos CTG’s é apenas simbólica! É uma “reconstrução” da vida no campo, usando elementos tirados daquela vida e daquele momento histórico... Não precisa ser um acadêmico para se entender isso, basta perguntar a qualquer gaúcho pilchado.
Mas quem “cria” esta imagem não é o CTG, nem as regras do tradicionalismo. Nós, gaúchos do século XXI, apenas externamos o que nos vem impresso em nossa alma, como modelo ideal. É o prazer, a satisfação pessoal, o sentimento de unidade cultural, que me faz vestir como homem do pampa, como um personagem histórico... Vejam, está no meu gosto, não nas determinações do CTG!
Portanto, não é o CTG que cria e recria o gaúcho, senão exatamente o contrário: Os “gaúchos personagens”, com toda sua bagagem cultural, física, psíquica, ética, entronizados em nossa consciência nacional, é que criaram o CTG’s!

Mas a “moça” vai mais longe. Diz que meio a reboque, dentro dos discursos tradicionalistas, inventou-se a Prenda... Para que ela seja a “mulher do gaúcho”, se encaixando assim no fictício mundo do CTG’s.

Diz que em uma das suas gravações de pesquisa, um “deus” tradicionalista confessou: “É, tivemos que inventar a Prenda... Se não, como o gaúcho ia perpetuar a espécie?”

Creio que estes acadêmicos, (não só ela, mas todos estes psico-historiadores de plantão) imaginam o CTG como uma Oficina de Criação, onde se determina como é o paraíso, a figura do Adão e depois a criação da Eva para ser sua companheira.
Eles estão tão enfiados dentro de um microscópio, atentos aos movimentos das bactérias, que nem percebem que o CTG é apenas um “clube”, um local onde se encontram aqueles que amam as coisas do Rio Grande, a música, a vestimenta, a culinária, e se sentem felizes praticando e representando a nossa cultura... Só isso!

Agradeçamos que os CTG’s não “inventaram”, em vez do mítico gaúcho, a figura do mítico Minotauro aqui no Rio Grande!

Sds
O Separatista

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