10 agosto 2006

CHUMBO GROSSO!

Eu sabia que vinha “chumbo grosso” do Trabalho da nossa cara Claudia Pereira Dutra.
Vou transcrever aqui alguns trechos que concentram o entendimento dos cientistas sociais a respeito da nossa cultura gaúcha.

“É possível perceber nestas abordagens acima citadas, a ilusão de completude, de preenchimento das lacunas e a pretensão de reconstruir inteiramente o passado,...” (Claudia, 2002, p.24).

“Podemos afirmar que a cultura gaúcha é um sistema simbólico que avaliza estigmas e estereótipos, sustenta a invenção de tradições e a formação de grupos de interesses e solidariedade. É através do culto a valores éticos, morais e práticas sociais consideradas seletas e o estabelecimento de tradições que justifiquem e glorifiquem as características étnico-regionais da cultura que os gaúchos geram e mantém o sentido de sua identidade.” (Kaiser, 1999, p.31).

“Nesta análise da maneira como a figura do gaúcho foi sendo construída e reconstruída, no momento em que emergem os primeiros episódios considerados os marcos fundadores do Movimento Tradicionalista Gaúcho, considero o gaúcho enquanto uma figura que foi fabricada. Longe de representar continuidade de um tempo mais remoto ou um objeto cristalizado no passado, o gaúcho é produto de um conjunto de "práticas discursivas", que se cruzam com outras práticas para conferir autenticidade...” (Claudia, 2002, p.26)

"Considero que o Movimento Tradicionalista reelaborou o gaúcho, embasado numa idéia de continuidade do passado, que estaria lhe conferindo autenticidade e valor de verdade, ao mesmo tempo imprimindo lhe novos significados.” (Claudia, 2002, p.26)
(Grifos meus)

Bem, amigos, fica aqui à vossa apreciação o veredito dos cientistas sociais... (Dentre os que já li posso acrescentar os nomes de Tau Golim e Moacyr Flores).

Segundo o que está explícito aí em cima, o tradicionalismo foi uma invenção inconseqüente de uns “gurís” que estudavam no Julinho, em 1947. Esqueçam o gaúcho, o pingo, a estância, a campanha, as vaneras... esqueçam tudo, que tudo isso é conseqüência do que aqueles “moleques” nos aprontaram... Safados!

.....

Mas mesmo que ninguém me pergunte, vou dar a minha opinião (depois quero ler a sua):

O gaúcho, tal como o conhecemos hoje, é produto da ação do tempo sobre a história de nossa terra. Na sua origem era um tipo humano muito característico, que foi narrado em prosa e verso por estrangeiros que aqui estiveram naqueles tempos idos. (Para conhecer a origem do gaúcho é indispensável ler Darwin, José Hernandez e Saint Hilaire). Bem, depois foi se misturando, foi perdendo algumas qualidades, adquirindo outras, mas mantendo-se na essência.

O Rio Grande não é palco de uma única cultura, claro que não! E o “gaúcho”, entendido como o gentílico do habitante do Rio Grande, não se insere dentro de uma única cultura. Mas o “gaúcho-um”, aquele tipo humano dos tempos idos, que se desenvolveu e vive até hoje, transformou-se numa cultura que abrange e se sobrepõem a todas as demais...

Para provar aos céticos o que digo, basta olhar para alguma outra cultura que formou o “caldo cultural” do Rio Grande. Tomemos a cultura italiana da serra gaúcha, por exemplo: Ela existe, e seus habitantes a cultuam ainda, simbolicamente, como nós cultuamos a cultura gaúcha... Mas os mesmos descendentes de italianos também se consideram gaúchos, não só porque nasceram no Rio Grande, mas porque amam a tradição gaúcha, são gaúchos autênticos de alma e coração.
O mesmo acontece com os alemães, com os poloneses, com os açorianos, e todos os outros.

Desta forma o gaúcho deixou de ser um tipo físico característico, para se transformar, através da ação da história, num tipo metafísico que engloba todo o nosso território (extrapolando-o até: Oeste catarinense e paranaense).

Há, sim, ainda nos dias de hoje, aqueles gaúchos “pelo duro”, que vivem em estâncias, em fazendas, em campanhas, em fronteiras, distantes dos centros civilizados, que mantém no cotidiano de sua vida, as mais caras tradições culturais gaúchas... Estes não estão representando nada, estes são autênticos, são alvo de nossa admiração. Mas nós, na cidade civilizada, com os dois pés no século XXI, precisamos representar, utilizar os símbolos mais caros, sob forma de tradição, para satisfazer a ânsia de exercer nossa identidade... Deixar a cultura citadina de lado, e mergulhar prazerosamente no seio de nossa cultura-mãe, a cultura gaúcha... Foi exatamente o que os “guris” estudantes do Julinho fizeram! Eles foram apenas os pioneiros, e aí está o mérito deles!

E, sabem o que eu acho?
Acho que estes cientistas sociais não sentem prazer algum, a não ser em remexer as entranhas de um rato de laboratório. Eles não saem dos seus escritórios, de dentro de suas salas e nem da frente dos livros, e querem entender o mundo assim...

Só quem é “Gaúcho de Coração”, é que pode entender e falar sobre a cultura gaúcha.

E sabem do que mais?
Eles não existem! Eles foram inventados, construídos, elaborados por um pequeno grupo de cientistas loucos, no início do século XX, que criaram a ciência-social para preencher uma lacuna existente no meio científico...

Tenho dito!

O Separatista

P.S.: E eu ainda não terminei de ler...

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