31 maio 2016

O QUE O POVO GAÚCHO DE LA PÁTRIA GRANDE DESCONHECE SOBRE O BRASIL

Em recente estadia na cidade de Buenos Aires, tive oportunidade de responder muitas perguntas acerca do momento que estamos vivendo no Brasil, além de ouvir muitas opiniões de uruguaios e argentinos segundo suas próprias interpretações.
A partir daí passei a ter grande preocupação, porque os considero como irmãos, pela forma tão distorcida como estão recebendo informações truncadas e claramente filtradas pelas mídias, e assim formando opiniões um tanto fora da realidade do que de fato aqui estamos vivendo.
Não pretendo dar uma palavra definitiva, longe disso. Há, mesmo aqui no Brasil, interpretações diversas sobre os mesmos fatos políticos. Mas preciso elaborar melhor os conceitos destes fatos, a fim de que tenham vocês meus irmãos argentinos e uruguaios um entendimento mais completo do que chamo "o outro lado da moeda".
Fica claro, porém, que esta é a forma como vejo toda a situação, e que pode sim ser interpretada de outra forma se os convém. Leiam e tirem suas próprias conclusões.

IDEOLOGIA POLÍTICA
Durante a Ditadura Militar que durou 21 anos (1964 a 1985), foi permitido apenas dois partidos, ARENA e PMDB, situação e oposição. Hoje, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o Brasil conta com 35 partidos, segundo suas posições ideológicas.
Posso lhes afirmar categoricamente: Não importa! São posições ideológicas "de fachada". Há apenas DUAS posições claras e incontestáveis, de ESQUERDA e de DIREITA. As demais fecham com uma ou com outra segundo suas ofertas e vantagens. Sua diversidade serve apenas para atrair incautos (que aqui são muitos!).
Portanto, ou são CAPITALISTAS ou COMUNISTAS.
A interminável briga pelo poder tem este grande objetivo final: Implementar e perpetuar seu sistema ideológico!
Agora vejamos: O Capitalismo parte de uma oligarquia produtiva e empresarial, inclusive externa, que gera empregos e sub-empregos e todas as consequências deles advindos, mas que se locupleta com o poder. As possibilidades de o Brasil ser um país altamente capitalista enche seus olhos: Uma massa popular enorme, de mais de 250 milhões de pessoas consumindo o que o capitalismo produz, não é pouca coisa! É um enorme mercado consumista! Mas o capitalismo selvagem só faz aumentar cada vez mais o abismo econômico entre as classes sociais, e no Brasil as desigualdades vêm aumentando, e muito. O governo do PT que seguiu o modelo capitalista de Fernando Henrique Cardoso com mais força e vigor, soube mascarar muito bem, com números falsos, a verdadeira e péssima situação econômica do Brasil para os outros países do mundo... Mas não consegue enganar uma grande parcela da população brasileira que está atenta à estas questões.
Já o Comunismo, conforme o conhecemos aqui no Brasil, é muito mais perverso do que isto:
1. Pretendem os partidos de esquerda, especialmente o PT, aplicar a Lei de Robin Wood, tirar da CLASSE MÉDIA para distribuir aos pobres. Vejam, NÃO DA CLASSE RICA E ABASTADA! Mas da classe média que realmente promove o crescimento do país. Isto acaba por nivelar todo o povo POR BAIXO.
2. A "Classe Dirigente" se arroga todos os poderes, incha, e se torna rapidamente abastada (É uma verdadeira CÔRTE MEDIEVAL!). A distância entre a classe dirigente e o povo é mais que abismal, é "inter-continental". Com o poder econômico nas mãos, mantém o resto do país (seus súditos escravizados) reféns!
3. A Classe média, e só a classe média, paga cerca de metade do que produz num ano, em impostos que são absorvidos por Brasília, e não retornam em bens e serviços, mesmos os essenciais. Que tal uma média de 50% do PIB brasileiro só de impostos? Vocês fazem alguma idéia?
4. Além de se locupletar regiamente, os dirigentes do país enviam bilhões e bilhões de dólares para suas contas em paraízos fiscais e para países "amigos", seja realizando grandes obras neste países, ou perdoando suas dívidas para com o Brasil. É absurdo total os bilhões que são gastos na "política externa", que fazem tanta falta aqui para o nosso dia-a-dia, para nossas escolas, nossos postos de saúde, infra-estrutura para locomoção do povo e dos produtos. A justificativa (que não justifica) é conquistar uma cadeira vitalícia no Conselho da ONU!... Às custas do sacrifício do povo?
5. O PT não inventou a corrupção. Sempre existiu no país. Porém em sua administração a corrupção cresceu exponencialmente, explodiu à olhos vistos, em tal proporção que acabou por chamar a atenção do próprio povo que estava sendo roubado, e por isso agora está aparecendo muito mais.
6. O pior: utiliza como forte meio de apologia comunista AS ESCOLAS, JOVENS PROFESSORES E LIVROS ESCOLARES PREVIAMENTE APROVADOS, mesmo os de níveis básicos, o que se configura um condenável golpe baixo!

O IMPERALISMO BRASILEIRO
Ao final, ambos os sistemas tendem ao Imperialismo. O Brasil como um todo tem uma tradição IMPERIALISTA. Mesmo depois de proclamada a República Federativa do Brasil (no início era Estados Unidos do Brasil), o imperialismo tão arraigado no povo e na classe política ADAPTOU-SE, cambiou seus métodos, mas na sua base de ação, DE FATO, CONTINUOU SENDO IMPERIALISTA. Analisando friamente ainda vemos todos os ingredientes indispensáveis a um legítimo imperialismo presentes no sistema político-partidário brasileiro. Sim, o próprio povo, no seu dia-a-dia, mesmo em sua classe social mais baixa, ainda PENSA O BRASIL COMO UM IMPÉRIO. é A PRÓPRIA CULTURA BRASILEIRA. Não no sistema monáquico (Um Rei com poder superior), mas o OLIGÁQUICO, onde TODO O PODER ESTÁ NAS MÃOS DE UNS POUCOS, sejam capitalistas ou comunistas.
Este SISTEMA PERVERSO promove lutas internas intermináveis pela conquista das POSIÇÕES ESTRATÉGICAS que detém o poder quase absoluto. O povo adota um Partido ou outro, como se fossem Clubes de futebol. Defendem-nos à morte. Torcem por eles, e tratam de conseguir adeptos ao "clube" que ama. Esta "torcida atuante" acaba por LEGITIMAR UM SISTEMA QUE DE DEMOCRÁTICO NÃO TEM NADA!
Ah sim, dizem que o sistema é "Representativo", portanto o que lá ocorre é um reflexo do que é o pensamento do próprio povo... Por um lado é verdade, a cultura brasileira nasceu do imperialismo. Não esqueçamos, porém, que o Brasil é culturalmente extratificado e que "Brasileira" é APENAS UMA DAS CULTURAS! O Brasil é, de fato, um AJUNTAMENTO DE CULTURAS DIVERSAS, em muitos pontos opostas umas às outras. A mais forte, consolidada e virtualmente diferente da cultura dominante no Brasil, é a CULTURA GAÚCHA.
Embora elejamos nossos representantes gaúchos para o Congresso e o Senado (através do voto obrigatório), eles só estarão aptos a receberem nossos votos SE PROVAREM PERTENCER E ESTAREM ADAPTADOS À CLASSE DE POLÍTICOS QUE O SISTEMA ADOTA... Há todo um processo de formação política que vai "encaixar" o postulante dentro do Sistema. O novato vai galgar postos e comprovar na prática que tem todas as "qualidades" necessárias para permanecer dentro do Sistema. Se não se adapta, está fora, não consegue expressão ou sequer consegue se candidatar a algum cargo. Isso, em qualquer instância do processo... É quase uma organização criminosa!
Por pertencerem a uma outra cultura, os gaúchos do Rio Grande, que em sua maioria pensam diferente do brasileiro, com uma outra cultura e outro modo de ver as coisas, se sentem excluídos do sistema. Mais que isso, em sua maioria ABOMINAM ESTE SISTEMA, desejam até implodí-lo!

A CULTURA GAÚCHA
Aqui no Rio Grande impera o pensamento REPUBLICANO e CONFEDERATIVO.
1. O gaúcho é por natureza CONSERVADOR e dificilmente muda de idéia, sendo firme em suas posições. Não gosta de meias palavras, nem de palavras enganadoras. É "Pau, pau. Ferro, ferro!".
2. O gaúcho preza pela família, pelas amizades sinceras, pelos bons costumes, pelo respeito às mulheres, pela educação, pela honestidade.
3. O gaúcho trabalha, e gosta de ver o resultado do seu trabalho. Abomina a exploração e o abuso a outras pessoas, e outras classes, mesmo aos animais.
4. O gaúcho é apegado às suas raízes, ama e se orgulha de seu país, seu povo, seu território, seus símbolos pátrios, sua bela cultura.
DEFINITIVAMENTE, O GAÚCHO NÃO É BRASILEIRO!

A HISTÓRIA
Analisando DO PONTO DE VISTA DO GAÚCHO RIO-GRANDENSE E SUA CULTURA, não podemos pensar no início de nossa história a partir da instalação dos primeiros povoados portugueses na região, como insistem em nos ensinar os livros de história no Brasil. Porque O GAÚCHO NÃO PROVÉM DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA! Isso é óbvio demais!
Considerando a região do Pampa, onde nasceu o tipo humano GAÚCHO, temos os ÍNDIOS NATIVOS (principalmente Charruas e Guaranís) como uma das raízes mais importantes nesta construção. A chegada dos primeiros espanhóis (Caboto, García de Moguer, principalmente Pedro de Mendoza) na primeira metade do século XVI, trouxe o outro elemento básico, O HISPÂNICO. O contato destes dois elementos gerou O MESTIÇO que conhecemos por "GAÚCHO". Estamos em 1550, mais ou menos. As primeiras investidas portuguesas, esgueirando-se pelo litoral norte a partir de Laguna-SC, datam de 1680, quando Manuel Lobo funda Colônia de Sacramento. Como podemos observar não há, num primeiro momento, influência colonial dos portugueses, uma vez que eram inimigos dos espanhóis e dos índios guaranis que defendiam aquelas terras. Nem mesmo as fundações do Forte "Jesus, Maria, José" (1737), do Forte "Jesus, Maria, José do Rio Pardo" (1752) ou mesmo a fundação de Viamão (1747) promoveu alguma influência portuguesa, pois não há contato com a cultura gaúcha que se consolida no Pampa, longe destes. Só em 1811, quando se estabelecem no Passo de Aceguá (Forte Santa Tecla) um grupo de soldados portugueses sob o comando de Dom Diogo de Souza, dando origem à cidade de Bagé, podemos considerar que começa efetivamente um tímido contato entre portugueses e gaúchos, ainda que inimigos dos espanhóis. Só a partir daí podemos considerar alguma influência portuguesa na formação da nossa cultura Gaúcha, cerca de TREZENTOS ANOS depois de sua gênese!
De fato a influência se deu de forma INVERSA à esperada. Foram OS PORTUGUESES QUE SE ADAPTARAM AO MODO DE VIDA DOS GAÚCHOS, tornando-se paisanos. Os "colonos" vindos do arquipélago dos Açores, tinham cultura PESQUEIRA, não sabiam nada de criação de gado, esquinos, ovinos... Só criavam galinhas e cabras, e sua agricultura era doméstica, para consumo próprio. Mantinham sua cultura européia apenas no interior de suas casas, sedes das estâncias, um arremêdo do modo de vida europeu... Os costumes gaúchos, perfeitamentes adaptados ao meio ambiente, às vastidões do Pampa, às lides campeiras, imperavam, agregavam valores, cresciam e avançavam pelas pequenas vilas, incapazes de reproduzir a vida européia nesta região absolutamente distinta da Europa.
A história que nos contam os livros dos HISTORIADORES OFICIAIS, que divulgam nas escolas, baseia-se na Côrte Imperial, centralizada no Rio de Janeiro, com fortes elementos bahianos. Conta a história dos negros escravos, dos senhores de engenho, dos coronéis nordestinos, da monocultura da cana-de-açucar e depois do café... O Rio Grande, segundo esta visão histórica, exerce um papel secundário guardando as fronteiras e fornecendo o charque para alimento dos escravos do resto do Brasil... Vejam quanta diferença entre uma história e outra... Temos de rever imediatamente este conceito, pois é isso que ensinam às nossas crianças gaúchas na escola o tempo todo, numa grande LAVAGEM CEREBRAL oficializada!

FINAL
Bom, meus amigos. Há muito ainda o que relatar à respeito do que de fato acontece aqui no Brasil. Não há espaço nem tempo para tudo. O que aqui foi relatado é apenas uma grande síntese, bastante superficial, destes temas que bem deveriam ser mais aprofundados e comprovados cientificamente, mas que no momento não nos é possível. Espero, pelo menos, ter chamado a atenção dos meus caros amigos argentinos e uruguaios para toda uma problemática brasileira gigantesca que infelizmente não é observada nem entendida pelos próprios brasileiros em sua maioria, e muito menos por quem só recebe informações filtradas pelas mídias. Mas que deveria. Espero que este pequeno texto sirva de um início de conscientização pública para nós mesmos, os gaúchos do Rio Grande, e para os demais "gauchos de la Pátria Grande".
Grande abraço.
Romualdo Negreiros