15 agosto 2006

Amigos,

Vou deixar de transcrever os trechos mais importantes do trabalho de Claudia Pereira Dutra, por dois motivos principais: São muito repetitivos e enfadonhos (uma falsa cantilena de dar dó!); É uma “enrolação” danada, um palavreado técnico que, espreme tudo, e a conclusão é de que o ovo é cabeludo e o burro, chifrudo... Tudo isso só pra afirmar que consegue ver mais longe que nós, os “grosso fantasiado de gaúcho”.
Para resumir, se alguém quiser conferir o trabalho na íntegra, vai em http://www.paginadogaucho.com.br/tese/prenda.htm e engane-se com seus próprios olhos.
Da minha parte vou colocar aqui um resumo-do-resumo-do-resumo do que considero, como historiador-das-horas-vagas, a trajetória do tipo humano gaúcho e de sua cultura... Incluindo aí mulher, cusco, galpão, vanera e tudo o mais. Vou me abster também de transcrever citações, recomendar livros, rebuscar provas. Não que não as tenha, mas que certemente tornará este texto muuuito chato e difícil de ler...
Mas esclarecimentos e comprovações poderão surgir em outra oportunidade.

Mestiços
Bem, a história (com “h”) conhecida e comprovada pelos historiadores mais insuspeitos nos mostra um mestiço surgido nos pampas através de concubinato entre os espanhóis, em sua maioria vindos das ilhas Canárias (aliás, de onde veio a “havannera” – de Havana – nosso atual “vanerão”), e índias da região, em sua maioria Guaranis e Charruas. Estes mestiços eram rejeitados pelos pais, por motivos fáceis de compreender. E, por isso, cresciam e viviam soltos pelos pampas, mais ou menos selvagens, sem regras, sem leis, uma espécie de “índios nativos” próprios da terra... Já que os demais povos índios, com sua bagagem cultural própria, teriam vindo de outras paragens.

Sobrevivência
Estes mestiços primitivos eram verdadeiros “adãos” em seu “paraíso-pampa”... Mas o paraíso começou a mudar. Começou a aparecer gente diferente, gente branca, gente perigosa, com armas de fogo, e ares de senhores do universo. A aproximação se deu rapidamente. Por curiosidade, por desafio, por sobrevivência... Conhecendo o álcool e o fumo, produtos trazidos pelos brancos que os proporcionavam mais sentimento de liberdade. Conhecendo também artigos que os embelezavam e os diferenciavam dos outros, surgiu aí a vaidade, a inveja, a cobiça... Ora, eram elementos sem “senhores”, sem leis para obedecer, e sem preceitos espirituais... Eram, segundo nosso entendimento atual de cultuados por europeus, vagabundos, borrachos, ladrões, bocas-braba! Eram, enfim, gaudérios, conhecidos mais tarde por gaúchos.
Houve, portanto um primeiro contato difícil entre aquelas culturas tão diferentes, mas aos poucos uns daqui e outros dali foram cedendo e alguns gaudérios eram aceitos nas lides das primeiras estâncias, haja vista suas inegáveis qualidades para tratar com os animais, o absoluto conhecimento das terras, e controle nato das adversidades do habitat. Haviam os comerciantes que exploravam o comércio ilegal de gado vivo, abatido e seus produtos, pagando quantias irrisórias aos gaudérios, que davam apenas para manter seus hábitos e vícios.

Costumes nativos viram cultura
Mas não vamos nos aprofundar neste causo, pois não quero que a matéria fique muito extensa. É importante que se diga, apenas, que desta aproximação, e misturança de costumes e modos tão diversos, foi se formando, com o tempo, o que hoje nós conhecemos por “cultura gaúcha”... Ora, todos sabemos que faz parte da sopa que hoje é nossa cultura tradicional elementos índios, açorianos, militares, espanhóis, tropeiros, portugueses (se esqueci algum me perdoem!). Isso nos mostra que “gaúcho” não era mais aquele elemento solitário, perambulante, isolado no pampa, mas todos os que viviam nos pampas, até mesmo aqueles cujas famílias vieram da Europa, até mesmo aqueles que vieram em tropeadas, lá de Piracicaba (acho errado dizerem que eram “paulistas”, pois aqueles homens vindos de lá de cima não tinham ainda a vida e os modos que hoje conhecemos como dos paulistas).
Então, neste primeiro momento, já temos todo um povo desgarrado e espalhado pelos pagos, com origens diversas, imbuídos de uma mesma cultura, já que esta cultura gaúcha é a mais adequada à vivência no habitat pampeano. São, portanto, todos gaúchos!
Esta cultura se firmou, com o tempo, com a lide diária, tudo o que conhecemos hoje e mais algumas coisas que ainda não foram resgatadas pelos historiadores mais sérios...
A ameaça
Porém, haviam as cidades! Núcleos fechados e concentrados, onde corriam soltas as características mais européias. Eram poucos núcleos, mas gaúchos não entravam, ou entravam por necessidade, mas eram mal-quistos, vistos com desconfiança.
Estes povoados eram mantidos e reforçados por um esquema muito mais forte, um império! Sistema administrativo vindo da Europa! Ou seja, eram pequenos, mas tinha força, e foram crescendo, foram se multiplicando. Ao mesmo tempo que os “senhores de estância”, ou patrões, sentiam-se parte daquele mundo, embora nascidos sob o signo gaúcho. Buscavam assim aproximar-se e vivenciar aquela cultura tão antiga, vistosa, aparentemente tão superior.

Nasce o tradicionalismo
Foi a tal ponto o crescimento da cultura citadina, em contraste com a campeira, que esta foi sufocando, foi definhando, foi sumindo... Ora, a vida das cidades não pode ser combatida, pois é uma realidade irreversível, mas precisávamos, nós gaúchos dos tempos modernos, manter acesa a “chama espiritual” da nossa cultura tradicional. Era preciso salvá-la do naufrágio total, pois, como sabemos, povo sem memória é povo escravo...
Assim foram atirados os botes ao mar, e nos CTG’s, conseguimos manter nossa memória e nossos costumes de vida campeira, vivos e atuantes...
Isso é um milagre!
Quantos povos definharam e morreram definitivamente diante de uma cultura massacrante e impositiva, como a cultura citadina dos tempos modernos?

Bem, a memória é mantida através de símbolos! Isso em qualquer parte do mundo! E estes símbolos gaúchos são tirados de momentos e lugares próprios que bem caracterizam nossa cultura gaúcha...
Só isso, gente! Não há o que procurar aí! Não há o que esquadrinhar, buscar nas filigranas, ver se acha pêlo em ovo! Não adianta ler autores estrangeiros sobre o comportamento humano... Estes caras não nos conheceram, não tiveram a mínima noção que pudesse existir uma cultura chula no Rio Grande e nos pampas argentinos e uruguaios. Se nos tivessem conhecido talvez tivessem elaborado teorias diferentes das que imprimiram nos livros, quem sabe?

Leio ainda que a prenda foi inventada, que o seu vestido foi criado pela mãe do Paixão Côrtes... Quanta besteira!
Os vestidos e tudo o mais utilizado para construir o símbolo da prenda (ou da china, como queiram), não vingariam, não seriam usados, caso não encontrassem ressonância e simpatia em nossos corações gaúchos. As modas e os modos são aceitos ou rejeitados por nós, tradicionalistas, após consulta formal às nossas mais profundas consciências gaúchas, e ninguém, nem mesmo o tal MTG, vai me impor como me vestir e como agir para que eu expresse meus sentimentos tradicionais!
O MTG, e os CTG’s, fazem parte de uma organização útil e necessária para estabelecer e manter limites, indispensáveis em qualquer sociedade, em qualquer clube, em qualquer agremiação!
Vejamos o caso de São Paulo, por exemplo. Bem, eles também têm sua cultura original, também têm suas tradições. Mas eles não têm uma organização, nem locais onde desenvolver e estabelecer os relacionamentos culturais. Não há organismo que impunha limites, fora dos quais já não pertence mais à cultura regional, e o que aconteceu? Pois não é que tudo virou uma enorme festa de Country americano?

Fico triste pelos paulistas...

Agora vem um grupo de intelectuais, presos às suas bibliotecas e escritórios, me dizer, a mim e todos nós tradicionalistas de paixão e alma, que tudo não passa de invenção, de suprimento de uma necessidade técnica do ser humano, que o gaúcho foi criado pelo MTG, e a prenda criada depois pra ser sua companheira!

Ora, se é assim, eu tô passando por palhaço e ignorante, representando uma criatura falsa, inexistente, inventada por três moleques que estudavam no Julinho...

E aí, vamos ficar aí parados esperando estes “intelectos superiores” destruírem nossas mais caras tradições com a britadeiras de seus grossos livros técnicos? Não vamos protestar?

Bem, por hoje chega, que já tô nas pontas dos cascos...

Quero ver o que vocês, que me lêem, vão dizer!

Sds
O Separatista



Vocês não existem!

Sabiam?!

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