AS CAPAS CULTURAIS
Observando a foto
de um homem moderno dificilmente vamos descobrir, por sua aparência, a sua nacionalidade.
O amigo da
ilustração acima poderá ser um nova-iorquino, um francês ou um cidadão
paulistano. O modo de vestir, que há tempos atrás era uma característica de
culturas regionais, hoje é “padrão” para todo o planeta.
Assim, como o
vestir, também outras características que antes eram peculiares de determinadas
regiões, hoje estão padronizadas no mundo todo.
Podemos citar,
como exemplo, os meios de transporte, as habitações, consumo de produtos de
beleza e até as atitudes do cotidiano, como levar os filhos à escola, almoçar num
buffet e passear no shopping.
Isto não
significa que estas pessoas “padronizadas” não se identificam com suas culturas
regionais. Não significa que não tenham noção de pertencimento a um grupo
sócio-cultural específico. Apenas adotam uma “cultura global” que recobre sua
cultura regional. Assim, o francês não deixa de ser francês, o japonês não
deixa de ser japonês e o uruguaio não deixa de ser gaúcho uruguaio.
Portanto essa
“cultura global” não anula a cultura regional, mas apenas a encobre como um
manto.
No caso do povo
gaúcho rio-grandense, temos um outro fator complicador.
Devido ao fato de
termos uma cultura gaúcha DIFERENTE da brasileira, situação que se estende por
séculos, fomos e estamos sendo constantemente bombardeados por elementos
característicos deste povo. Principalmente após a popularização dos atuais
meios de comunicação.
As crianças e os
adolescentes gaúchos são grandemente influenciados por estas características
que são próprias e comuns entre brasileiros do centro e norte do Brasil, mas
não são próprias do Rio Grande.
Este constante “bombardeio
de brasilidade” que o gaúcho recebe pela mídia, a muitas gerações, acabou por
criar uma outra cobertura cultural que sufoca a nossa legítima cultura gaúcha.
Nosso caso,
portanto, se resume em:
1) Somos
naturalmente gaúchos-platinos;
2) Estamos
recobertos por uma capa sufocante de brasilidade;
3) Temos por
sobre esta, ainda mais uma capa de “cultura global”.
Devido a estes
fatores, percebemos muitos gaúchos rio-grandenses com dificuldades para se
reconhecerem em suas origens. Em primeiro lugar são “cidadãos do mundo” (O
invólucro externo), em segundo são brasileiros e só em último caso conseguem
sobrepujar às “falsas capas” e SE RECONHECEREM GAÚCHOS DE FATO.
Este
reconhecimento, na sua maioria, não passa de alguma admiração pelas práticas
tradicionalistas, pela incompreensível saudade quando longe do Rio Grande ou
pelo estranho sentimento de orgulho quando se entoa o Hino do seu Estado.
São como fracos
vislumbres, centelhas de um braseiro que parece escondido em sua alma, e que só
em alguns momentos floresce trazendo um sentimento de cumplicidade e alegria.
Se estas pessoas
buscarem conhecer melhor suas origens, levantando a capa de brasilidade e de
urbanidade, através do resgate da sua história, e de como somos produto dela,
poderão alcançar um melhor entendimento de sua verdadeira identidade cultural.
O benefício disso
é imenso. Pois do reconhecimento pleno de sua identidade, o gaúcho descobrirá a
sua vocação, o seu próprio e mais adequado caminho.
Se sabemos quem somos,
e onde estamos, teremos plena consciência de “para onde queremos ir”!
Assim o resgate
de nossa nacionalidade pode nos trazer benefícios incomensuráveis: Uma
sociedade forte, capaz, completa, e direcionada ao pleno bem estar... Que, em
suma, é o que todos desejamos.
Fica, portanto, o
convite a todos os meus compatriotas gaúchos rio-grandenses: Vamos desvestir
estas “capas” culturais que nos impede de trilhar o nosso próprio caminho de
desenvolvimento. Reconhecendo o passado, como nossa identidade cultural, mas
olhando daqui para o futuro de nosso povo legitimamente gaúcho!
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