16 maio 2014

AS CAPAS CULTURAIS


Observando a foto de um homem moderno dificilmente vamos descobrir, por sua aparência, a sua nacionalidade.

O amigo da ilustração acima poderá ser um nova-iorquino, um francês ou um cidadão paulistano. O modo de vestir, que há tempos atrás era uma característica de culturas regionais, hoje é “padrão” para todo o planeta.
Assim, como o vestir, também outras características que antes eram peculiares de determinadas regiões, hoje estão padronizadas no mundo todo.
Podemos citar, como exemplo, os meios de transporte, as habitações, consumo de produtos de beleza e até as atitudes do cotidiano, como levar os filhos à escola, almoçar num buffet e passear no shopping.
Isto não significa que estas pessoas “padronizadas” não se identificam com suas culturas regionais. Não significa que não tenham noção de pertencimento a um grupo sócio-cultural específico. Apenas adotam uma “cultura global” que recobre sua cultura regional. Assim, o francês não deixa de ser francês, o japonês não deixa de ser japonês e o uruguaio não deixa de ser gaúcho uruguaio.
Portanto essa “cultura global” não anula a cultura regional, mas apenas a encobre como um manto.
No caso do povo gaúcho rio-grandense, temos um outro fator complicador.
Devido ao fato de termos uma cultura gaúcha DIFERENTE da brasileira, situação que se estende por séculos, fomos e estamos sendo constantemente bombardeados por elementos característicos deste povo. Principalmente após a popularização dos atuais meios de comunicação.


As crianças e os adolescentes gaúchos são grandemente influenciados por estas características que são próprias e comuns entre brasileiros do centro e norte do Brasil, mas não são próprias do Rio Grande.
Este constante “bombardeio de brasilidade” que o gaúcho recebe pela mídia, a muitas gerações, acabou por criar uma outra cobertura cultural que sufoca a nossa legítima cultura gaúcha.
Nosso caso, portanto, se resume em:
1) Somos naturalmente gaúchos-platinos;
2) Estamos recobertos por uma capa sufocante de brasilidade;
3) Temos por sobre esta, ainda mais uma capa de “cultura global”.
Devido a estes fatores, percebemos muitos gaúchos rio-grandenses com dificuldades para se reconhecerem em suas origens. Em primeiro lugar são “cidadãos do mundo” (O invólucro externo), em segundo são brasileiros e só em último caso conseguem sobrepujar às “falsas capas” e SE RECONHECEREM GAÚCHOS DE FATO.
Este reconhecimento, na sua maioria, não passa de alguma admiração pelas práticas tradicionalistas, pela incompreensível saudade quando longe do Rio Grande ou pelo estranho sentimento de orgulho quando se entoa o Hino do seu Estado.


São como fracos vislumbres, centelhas de um braseiro que parece escondido em sua alma, e que só em alguns momentos floresce trazendo um sentimento de cumplicidade e alegria.
Se estas pessoas buscarem conhecer melhor suas origens, levantando a capa de brasilidade e de urbanidade, através do resgate da sua história, e de como somos produto dela, poderão alcançar um melhor entendimento de sua verdadeira identidade cultural.
O benefício disso é imenso. Pois do reconhecimento pleno de sua identidade, o gaúcho descobrirá a sua vocação, o seu próprio e mais adequado caminho.
Se sabemos quem somos, e onde estamos, teremos plena consciência de “para onde queremos ir”!
Assim o resgate de nossa nacionalidade pode nos trazer benefícios incomensuráveis: Uma sociedade forte, capaz, completa, e direcionada ao pleno bem estar... Que, em suma, é o que todos desejamos.

Fica, portanto, o convite a todos os meus compatriotas gaúchos rio-grandenses: Vamos desvestir estas “capas” culturais que nos impede de trilhar o nosso próprio caminho de desenvolvimento. Reconhecendo o passado, como nossa identidade cultural, mas olhando daqui para o futuro de nosso povo legitimamente gaúcho!

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