O mundo
moderno, com o advento da globalização, trouxe um modo de viver, de pensar e
consumir, se não igual, muito semelhante para todos os povos do mundo. Eu diria
que o modo de um paulistano viver é basicamente o mesmo de um nova-iorquino, ou
de um moscovita.
Onde quer que
haja uma cidade média ou grande, ou ainda alguma metrópole e megalópole, há uma
espécie de “cultura citadina”, que envolve a todos os seus habitantes,
cobrindo-os todos com um único “pó urbano”.
Isso é tão
facilmente observável, que dispensa maiores comprovações.
Podemos
chamá-lo, para entendimento nosso, de “CULTURA URBANA”.
Esta cultura,
criada pelo modernismo e seus aliados, os meios de comunicação, acaba por
acobertar uma outra cultura natural, do local, com cores e características únicas
e próprias de cada povo.
Esta cultura
básica que todo o povo, e cada cidadão, traz em si, visualmente vira então
folclore, tradição, mito. Apesar disso ela continua internamente ditando o
“modus operandi” dos cidadãos individualmente ou em conjunto, sendo a base de
suas atitudes e reações.
Porém é algo
que está, nas cidades modernas, sendo relegado a um segundo plano, enraizado na
alma de cada integrante deste povo, amordaçada, reprimida, asfixiada, até.
Bem, dizem que
estamos caminhando a passos largos na direção de uma única cultura mundial, uma
só nação de 10 ou 12 bilhões de pessoas... É algo aterrador, mas não gostaria
de seguir por este viés neste texto.
Por enquanto
ainda temos culturas diferenciadas, marcando nações diferenciadas e, por vezes,
países diferenciados.
Este fato é
responsável pela diversidade de matizes culturais da humanidade. E isso é bom,
por enquanto.
Jean-Jacques
Rousseau, em seu famoso Contrato Social, asseverou que os países, à exemplo das
pessoas, deveriam ter um tamanho médio. Caso um país fosse grande demais
sofreria de gigantismo, se pequeno demais, de ananismo, assim como os seres
humanos!
A assertiva de
Rousseau leva em consideração o fato de que em um país com enorme território,
crescem e se desenvolvem povos em tão variadas condições que um basicamente
nada tem em comum com o outro, exceto o fato de estarem compartilhando de um
mesmo território gigante e se submeterem à leis únicas para todos.
Com o Brasil
gigante não é diferente. Nele nasceram e se desenvolveram povos em condições
climáticas, geográficas, históricas e até étnicas, completamente diferentes uns
dos outros.
Ora, devido
exatamente a estas diferenças de condições, mas principalmente porque seus
povos, amadurecidos, acentuam e evidenciam estas diferenças, as necessidades e
exigências destes povos são, por óbvio, igualmente diferentes umas das outras.
“Ah, mas não é
bem isso que observamos no Brasil”, diriam os defensores da brasilidade. O
território todo tem mais ou menos as mesmas reivindicações, os mesmos desejos,
e até as mesmas frustações!
Aqui entra a
questão abordada em primeiro lugar: A cobertura de um “pó urbano”, ou se
quiserem, a Cultura Urbana.
Mas ainda aqui
temos mais um agravante.
Até a década
de 30 os Estados brasileiros conseguiam manter uma boa dose de autonomia
política e econômica, contribuindo com uma pequena quota para o benefício do
todo, que era por certo distribuída entre os Estados menos aquinhoados.
Porém, com a
criação da “brasilidade” nesta década, pelo gaúcho Getúlio Vargas, principalmente
no período ditatorial, uma nova “capa” vem cobrir os povos que convivem no
território brasileiro, a capa da “CULTURA BRASILEIRA”, levada à cabo naquela
época com muita eficiência através de Leis, Instituições e ordenamentos
diversos.
Depois dessa “criação”
vivemos no mundo o rápido desenvolvimento dos meios de comunicação de massa que
foram habilmente utilizados para impor e reforçar esta capa cultural a todos os
demais povos.
Naturalmente a
Cultura Brasileira sobressaía-se sobre as demais por ter como berço os povos e
locais onde viveram os principais colonizadores portugueses, a Corte fugidia,
que se instalou na Bahia e posteriormente no Rio de Janeiro. Esta seria, pois,
a legítima cultura de todo o enorme território brasileiro. E assim foi tratada.
Agora podemos
ver com mais clareza a situação da cultura gaúcha, no Rio Grande do Sul.
Uma grossa e
pesada capa cultural brasileira encobrindo-os nas médias e grandes cidades. E
por cima, e mais poderosa, a urbana mundial.
Quando olhamos
para o gaúcho hoje, caminhando célere pela Rua da Praia na hora do “rush”,
vemos um brasileiro urbano, como todos os demais... Não nos apercebemos, num
primeiro momento, do que poderia ter aquele cidadão de diferente dos demais,
das outras capitais do país, ou mesmo das outras cidades do mundo.
A cultura
gaúcha, dentro de seu ser, está tão oprimida, tão pequena e distante, que na
maioria das vezes nem ele mesmo percebe! Sente-se um brasileiro, cidadão do
mundo, com seu iPhone ao ouvido cantando em português.
Não se apercebe,
este cidadão, que está passando por um processo de massificação, onde ele é
apenas um entre 200 milhões. Que está sendo levado, inconscientemente, a
consumir produtos globalizados, e adotar posturas brasileiras, que por sua
natureza, possivelmente não as teria. Vê-se parte de um enorme quebra-cabeças,
contribuindo para a realização de um futuro que não sente, que não é o seu
desejo de futuro, mas apenas do povo culturalmente brasileiro.
Bluntschli
enunciou o Princípio das Nacionalidades nos seguintes termos: “Toda nação é destinada a formar um Estado,
tem o direito de se organizar em Estado. A humanidade divide-se em nações; o
mundo deve dividir-se em Estados que lhes correspondam. Toda nação é um Estado;
todo Estado, uma pessoa nacional”.
O povo gaúcho
do Rio Grande só pode ser aceito como uma nação quando SE VER E SE ACEITAR como
um povo com uma cultura diferenciada, tanto da brasileira como de qualquer
outra do mundo!
Para isso
precisa conhecer-se e reconhecer-se a si mesmo. Olhar com atenção em seu
íntimo, sua essência, sua alma!
Precisa
entender por que se emociona quando canta o Hino do Rio Grande no estádio.
Precisa deixar aflorar corajosamente a emoção e as lágrimas quando admira sua
bandeira tricolor tremulando sobre os galpões do Parque Harmonia no mês
Farroupilha, ou por que fica hipnotizado diante de um filme sobre o Rio Grande,
suas coisas, ou com tema gaúcho!
O gaúcho
rio-grandense precisa sacudir estas capas citadinas e brasileiras, para se
perceber legitimamente gaúcho!
Já aconteceu com
muitos, mas não com a maioria... Precisam ser sacudidos!
Não é só uma
questão subjetiva de sentimento. Há comprovações em fatos históricos,
geográficos, econômicos e até espirituais.
Se o objetivo da humanidade é buscar a
felicidade, devido às diferenças culturais cada povo tem seu próprio modo de
procurá-la. O Gaúcho rio-grandense só a poderá buscar de forma consequente
quando assumir sua identidade única e diferenciada das demais, constituindo
assim, por força da própria natureza, uma nação de fato e constituindo um
Estado de Direito.